Publicada em 21/09/2011 às 12h48m
NOVA YORK - Os dois primeiros discursos de líderes na 66ª sessão da Assembleia Geral da ONU deram o tom da divisão que deve permanecer em relação à questão palestina: enquanto a presidente Dilma Rousseff afirmou na abertura da reunião que "é chegado o momento de termos a Palestina representada como membro pleno", o presidente americano, Barack Obama, falou logo depois dela e insistiu que a solução para o impasse entre palestinos e israelenses é a negociação entre as duas partes.
- Essa é a lição do Sudão do Sul. Esse é e será o caminho para um Estado palestino - afirmou Obama, fazendo referência ao 193º membro da ONU, que declarou sua independência este ano após referendo resultado de acordo com o Sudão. - Estou frustrado pela falta de avanço. A questão não é a meta, e sim como alacançá-la. Não há atalho. Paz é trabalho duro.
Após discursar, Obama se reuniu com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que agradeceu o apoio dado pelo americano a uma saída negociada para a questão palestina. O premier reiterou que a votação na ONU "não terá êxito".
Enquanto o discurso de Dilma foi centado na crise econômica , com várias menções à defesa do papel das mulheres, Obama exaltou o momento atual, afirmando que este foi um "ano de transformações extraordinárias" no mundo. O presidente citou a queda de ditadores na Tunísia e no Egito, os avanços na Líbia - que "tinha a mais longa ditadura do mundo" -, e mostrou preocupação com a Síria, defendo sanções ao regime de Bashar al-Assad, com o Iêmen e com o Bahrein, aliados importantes do governo americano.
Ban Ki-moon pede apoio a países da Primavera ÁrabeNa abertura da sessão, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu que os líderes mundiais evitem o surgimento de conflitos e ajudem as nações do Oriente Médio e do Norte da África que lutam por democracia. Ban destacou a Síria como motivo de "preocupação especial" entre os países envolvidos na Primavera Árabe.
Comentando o pedido de reconhecimento que será feito ao Conselho de Segurança na sexta-feira, o secretário-geral afirmou que os palestinos merecem ter um Estado, mas ponderou que Israel precisa de segurança. Ele também voltou a defender o diálogo, afirmando que o impasse sobre a retomada das negociações deve ser superado.
Pressão sobre Obama também marca reunião na ONUIniciada com o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, a reunião na ONU não terá alguns de seus principais - e mais polêmicos - oradores e também vai colocar no palanque um presidente americano acuado como há tempos não se via, além de Salva Kiir Mayardit, à frente do país mais jovem entre os quase 200 ali representados, o Sudão do Sul.
Segundo a falar, em sua terceira vez no fórum, Obama terá pela frente ao longo dos três dias de reunião um panorama diferente do de 2009. Naquele ano, após quase uma década de relações complicadas entre ONU e o governo George W. Bush e com uma plateia esperando uma guinada, ele prometeu "uma nova era" e ganhou os líderes presentes logo nas primeiras palavras.
Agora, terá que lidar com, além de um crescente sentimento anti-ONU do Congresso americano, o delicado projeto palestino de tentar o reconhecimento de seu Estado. Na sexta-feira, quando a proposta for submetida a votação, o mesmo Obama que em 2010 disse que gostaria de um dia ver a Palestina como membro pleno nas Nações Unidas terá que usar o direito ao veto.
Netanyahu, Abbas e a proposta palestinaNa sexta-feira, todas as atenções estarão voltadas para o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que, depois de discursar, tentará elevar o status palestino na ONU de entidade para Estado. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, falará logo depois, provavelmente com um protesto pró-Palestina do lado de fora.
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança - EUA, Rússia, China, Reino Unido e França - estão divididos. Rússia e China apoiam a intenção palestina, enquanto França e Reino Unido devem se abster. Os EUA são contra o reconhecimento unilateral do Estado palestino, e basta um veto de um membro permanente para derrubar pleito.
Os votos dos membros rotativos Líbano, Brasil, Índia e África do Sul serão pró-Palestina. Para diminuir seu isolamento, os EUA pressionam os outros aliados europeus (Alemanha e Portugal) e a Colômbia, outro país próximo de Washington. As chances de conseguir os votos da Bósnia-Herzegovina, do Gabão e da Nigéria são pequenas, para os americanos.
Após a pausa para o fim de semana nos debates, o Conselho de Segurança se reunirá para discutir a questão síria, onde a violenta repressão a protestos já entra no sexto mês. Um representante do governo Bashar al-Assad terá a chance de discursar.
Sem Chávez e Kadafi, mas com AhmadinejadAinda nesta quarta-feira, também terá outros discursos-chave, como os dos presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, e da França, Nicolas Sarkozy. Outro a discursar será Mayardit, pelo Sudão do Sul. O presidente afegão, Hamid Karzai, também falaria no mesmo dia, mas a morte de seu antecessor Burhanuddin Rabbani, num atentado, antecipou seu retorno.
Chefe de Estado mais controverso da Assembleia Geral, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad terá a palavra na quinta-feira, quando deve fazer um discurso carregado de mensagens anti-Israel e pró-Palestina. Em seu sétimo ano no fórum, ele deve também abordar as revoltas no Mundo Árabe.
Em tratamento contra o câncer, seu amigo e aliado Hugo Chávez, que em 2006 disse que Bush cheirava a enxofre, anunciou que não irá a Nova York. Assim como o ditador Muamar Kadafi, que em 2009 se referiu ao Conselho de Segurança como o "conselho do terror" e neste ano, escondido, é caçado pelas tropas rebeldes na Líbia.
A Líbia será representada na Assembleia Geral por Mustafa Abdel Jalil, presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), que na semana passado ganhou o aval do Conselho de Segurança para participar da reunião.
Também prometendo discurso polêmico, o presidente boliviano, Evo Morales, chegou na terça-feira a Nova York criticando o que chamou de "conselho de insegurança" por aprovar a missão da Otan na Líbia.
FONTE: JORNAL O GLOBO